A Busca Por Mais Tempo Para Ser

Nasci e cresci no Rio de Janeiro onde fui cuidada não apenas por minha mãe, mas por uma sucessão de empregadas domésticas que passaram por nossa casa até que a Leda, há mais de 40 anos conosco, finalmente chegasse as nossas vidas fechando um ciclo de mudanças constantes para nós.

Eu cresci vendo a Leda ser a “mãe em casa”, enquanto a minha mãe trabalhava fora em período integral. Leda sempre fez absolutamente tudo o que nós, brasileiros de classe média, viemos a esperar que fosse feito por nós: a nossa comida, o cuidado das nossas roupas, o passeio do cachorro, a mesa posta e os jantares e festas infantis da família, quando ela ficava até de madrugada, enrolando brigadeiros enquanto, claro, mantinha toda a casa limpa e arrumada.

A verdade é que eu não sabia que as nossas casas no Brasil, são quase como hotéis e eu só me dei conta disso o dia que passei de hóspede para dona da minha própria vida, o dia em que me casei, me mudei para o outro lado do mundo e passei a fazer por mim tudo o que preciso que seja feito.

fazer menos para ser mais

Ao contrário do que você possa pensar, minha transição para o status de “gata borralheira” não teve nada de penoso ou vergonhoso. Eu abracei o novo estilo de vida, destruí muitas roupas, queimei muitas panelas, mas a verdade é que cresci imensamente como ser humano.

Não porque lavar o banheiro ilumine alguém, mas porque fazer qualquer coisa com amor, dedicação e presença, traz a oportunidade de aprendermos mais sobre nós mesmos, mas principalmente, ao deixarmos de terceirizar os aspectos mais básicos de nossas vidas, nós abrimos a possibilidade de reavaliação de padrões, preconceitos e da nossa cultura. E foi isso que eu fiz ao longo dos últimos 14 anos enquanto cuidava da minha família, do meu casamento, criava um negócio de organização profissional e me mudava 7 vezes em 11 anos ao redor do mundo por conta do trabalho do meu marido.

É fato que por eu ter sido mãe em “período integral” por 9 anos, facilitou muito o meu “aprendizado” e que eu não tive a metade do estresse que as minhas amigas com filhos, trabalhando em período integral encaram (já leram o livro “I don’t know how she does it”, que virou filme com a Sarah Jessica Parker?), mas o que eu aprendi é que se não vamos ter ajuda, temos que buscar soluções e é exatamente esta busca que nos faz crescer e mudar.

Hoje o Brasil passa por uma imensa transformação social, onde cada vez mais vemos as famílias tendo que se adaptar a um novo estilo de vida: o da vida sem empregada. Uma vida que pode parecer um verdadeiro pesadelo para quem é pego de surpresa ou é forçado a se adaptar, mas não precisa ser assim. Este pode ser na verdade um momento de transformação e crescimento, tanto pessoal como familiar.

Aqui em San Diego eu trabalho com mulheres super ocupadas. Mães, profissionais, que não contam com qualquer suporte doméstico como conhecemos no Brasil, já que este serviço aqui é valorizado e pago de acordo, de forma que uma empregada em período integral é algo muito raro e nem os meus clientes mais abastados tem uma.

Cito minhas clientes pois elas são a prova viva de que podemos viver bem sem empregada, de que com organização pessoal, criatividade e a participação de todos na família, a vida pode ser não apenas diferente, a vida pode ser melhor. Minhas clientes não são o estereótipo americano que você pode estar pensando: elas não se entopem de congelados, não abrem latas de macarrão para o jantar das crianças, não vivem em casas sujas ou caóticas e sim, tem um vida intensa e para isso eu sou contratada pois, precisam de ajuda para encontrar maior equilíbrio entre o pessoal e o profissional.

Este mês eu começo uma nova coluna em um blog americano (novidades em breve) falando exatamente sobre essa busca e de como podemos buscar este equilíbrio, como podemos encontrar mais tempo, não para fazer mais, mas sim para ser, para estar mais. Para estar mais consigo, mais com os amigos, mais com quem se ama.

A vida hoje é intensa demais. É como se o nosso mundo estivesse se expandindo em alta velocidade. Hoje somos compelidos a fazer, a responder, a consumir, é chic viver ocupado, carregar o crachá e provar para o mundo “o quanto fazemos”, mas há cada vez mais pessoas se questionando e revolucionando suas vidas e a de milhares de pessoas. De casas minúsculas ao trabalho virtual, há pessoas buscando mais no menos.

Hoje, enquanto você lê esta mensagem, eu estarei nas montanhas com a minha família e estarei, como nos acostumamos a dizer, “desconectada”; o que é um paradoxo, pois é exatamente o oposto de como nos sentimos ao desligarmos tudo, para podermos então, realmente nos conectar e estar.

E assim, enquanto mais uma estação se fecha e a Terra gira levando a primavera e o verão de volta para você, eu te pergunto: o que você pode deixar de fazer hoje na sua vida, para ter mais tempo para ser mais?

Um super beijo e nos vemos em uma semana!

 

 

 

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